Ad Caelum

Roberto Vargas Jr.
2 min readJan 12, 2024

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Imagem: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS

Foi uma viagem estranha e tudo agora é nebuloso. Mas algumas coisas me restaram nítidas e indeléveis.

Quando chegamos, foram-me dadas novas vestes. Eu arrepiei o meu cabelo, vesti a túnica, ainda com suas etiquetas, e me pus a caminhar.

Eu caminhei por horas em uma cidade fantástica. Atravessei ruas e avenidas, olhei para o alto de tão enormes arranha-céus que dos céus só via uma nesga. Sentia-me como ao pisar a terra roxa da minha cidade natal. E era como a minha cidade natal, mas muito maior e infinitamente mais bela.

Passei a atravessar salões e salões. Abarrotados de gente. Senti-me a sufocar. Eu precisava de um pouco de ar. Encontrei uma porta, idêntica a do clube da minha infância. Abri e me vi, só e aliviado, de volta à colina existencial, sob um céu nu e negro, e o vento a soprar fresco e puro como o hálito de um bebê. Perdi novamente o fôlego. Olhei ao céu, ao espaço aberto e livre, e vi as estrelas como jamais as vi. Pareciam tão distantes quanto ao alcance da mão. Extasiado, percorri com os olhos esta imensidão. E então vi Júpiter, imenso e belo como um deus, deslumbrante como numa pintura de van Gogh, inesquecível qual na visão de Ramson em Malacandra.

Depois, finalmente, perdi os sentidos. Quando os recobrei, foi como despertar para mais um dia de trabalho. Ou como receber, a contragosto, aquela impactante e insípida dose de realidade que, se cedermos, suprime toda saudade da eternidade.

Eu preciso voltar a viajar!

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