A Igreja não faz?

Roberto Vargas Jr.
4 min read4 days ago

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Vemos nas redes sociais as mais variadas versões de “a Igreja não faz” e “a Igreja faz mal”. Sob a desculpa aparententemente piedosa de “reconhecer as falhas da Igreja”, até mesmo cristãos bem intencionados podem ceder à maledicência.

Porque, sim, é maledicência. Se por nada mais, nenhuma pessoa é onipresente e onisciente para um categórico “não faz” (ou “faz mal”). O que alguém poderá dizer é que sua igreja local não tem feito ou tem feito mal. Mas se é sua igreja local, que faz essa pessoa para mudar tal quadro triste? Terceirizar culpas, alardeando falhas universalizadas nas redes sociais, não é resolver o problema. É ser o problema.

Há, pois uma diferença brutal entre entre “reconhecer falhas” e a maledicência corrente.

E devemos reconhecer falhas. Alguém poderá dizer: “A igreja não esteve lá por mim”. Ou então: “A igreja me fez este mal”. Pois isso, infelizmente, acontece. E acontece com frequencia muito maior do que consideramos aceitável. Talvez você mesmo possa dizer algo assim. Eu posso.

Entretanto, a mágoa não deveria imperar sobre o perdão nem sobre a compaixão. Nem sobre a própria razão. Que a maledicência, tanto mais aquela que afeta justiça, esteja nos lábios dos ímpios é compreensível. Mas o coração do cristão deve ser transformado e seus olhos abertos para que não caia nesta tentação terrível de afetar piedade.

E você já notou que esta afetação de piedade quase sempre assume premissas progressistas? Nem estou a sugerir aqui que muitos cristãos, se é que são, preferem ser bem vistos por ímpios que por outros cristãos. Isso é, aliás, uma verdade quem nem precisa ser mencionada. O que sugiro é que a piedade é medida em termos políticos. É o que se vê de “ação social” ou “justiça social” que determina o que devemos afirmar sobre um igreja.

Não é uma questão de ortodoxia e ortopraxia. Essa questão é velha dentro das igrejas e quem há de questionar que devem andar juntas? É questão de que a agenda cristã foi tomada pelos progressistas e transformada ao seu modo.

Nem é que, em algum tempo e lugar, a postura cristã não deva ser de esquerda. As definições do espectro político são por demais fluidas e talvez haja ocasião em que o cristão deva ser visto como “revolucionário”. Acontece que neste tempo e lugar, todo progressismo é perverso e pernicioso.

Agora, note, recentemente um amigo me disse “a igreja não esteve lá por mim”, e completou: “mas o partido político esteve”. Eis aí a perversidade que fará a maledicência soar justificada (o que não foi a intenção do meu amigo, fique claro). Pois partidos políticos (e também algumas outras religiões) alardeiam suas “boas ações” nos mais belos termos da “justiça social”.

A Igreja, porém, não tem compromisso com isso. Antes, com frequencia muito maior do que as das suas falhas, a própria mão esquerda da Igreja não vê o bem que fez sua mão direita.

Minha igreja local talvez seja tão pequena e de tão poucos recursos que sua ocupação está antes em sobreviver e olhar para si do que atuar e olhar para fora. Entretanto, não só há ações pontuais do que se poderia chamar de “justiça social” como há aquela igreja-irmã que nos socorre e, sem muito alarde, possui trabalhos com a comunidade local.

Por qual razão deveríamos atribuir uma bem real falha específica de uma igreja em particular a todas elas e não conseguimos atribuir o bem de uma a todas? Perdemos a tal ponto a dimensão comunitária da fé que não vemos mais que o bem realizado por uma igreja é bem realizado por toda a Igreja?

E esta dimensão comunitária da fé não é apenas entre igrejas. Ora, minha igreja local é efetivamente pequena e de poucos recursos. Mas conheço irmãos que, em tendo um pouco mais de recursos que os demais, vêm em seu auxílio sempre que sabem da necessidade e podem auxiliar. De forma discreta e anônima.

A boa ação destes irmãos não diminui a necessidade de ações oficiais e públicas. No entanto, o bem que fizeram é um bem. E não o fizeram em seu nome, mas no dEle. É o Corpo de Cristo a agir. É a Igreja a fazer o bem. Ademais, em última instância, o compromisso da Igreja é com o bem em si e não com a publicidade deste bem, não com a agenda de termos corrompidos.

Ora, e por qual razão deveríamos medir o bem que uma igreja faz por suas “ações sociais”? Quanto mais fizermos, melhor sim. Porém ainda é a fidelidade ao Evangelho a medida da piedade cristã. Tudo o que é feito, externamente, aos olhos, é consequencia dessa transformação interna, do que olhos não podem ver. Não pertencemos a uma ONG. Aliás, deixem as ONGs aos “ongueiros”. Ao cristão cabe Igreja.

Enfim, não precisamos negar que falhamos, individual e coletivamente. Afinal, somos não mais do que pecadores arrependidos que, mesmo quando intentamos o bem, ainda o realizamos imperfeitamente. Haverá mais motivos de arrependimento para os quais o perdão deverá ser exercido.

Porém, há não só o exercício do perdão entre nós como há o perdão do Cristo para Sua Igreja. A qual Ele vê sem mácula e da qual recebe todo bem como oferta e culto.

Quer ver o bem sendo realizado na sua igreja local? Seja instrumento deste bem e deixe a maledicência para os lábios dos ímpios. Purifique os seus e bendiga a Noiva. O Noivo tem prazer nisso!

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